23/06/2012

Uma Vida Perfeita


Acreditava ser e ter uma vida perfeita era uma excelente profissional e ocupava um cargo importante dentro de uma renomada empresa, por esta função ganhava muito bem, o que proporcionava uma vida excelente. Viajava de férias para onde queria, trocava constantemente de carro e de apartamento sempre procurando melhorar seu mundo perfeito. Profissionalmente sua carreira ia num ritmo crescente, sentia-se realizada.
Morava sozinha num grande e bem decorado apartamento, sentia muito prazer em voltar para casa a noite.
 

De acordo com seus padrões acreditava ter e ser perfeita, era bonita, magra muito magra, fazia muita academia para manter-se assim. Comida nem pensar, só light e em porções mínimas, quando ia a restaurantes controlava bem seu desejo e pensava que seu corpo era perfeito para deixar ser seduzida por uma vontade que acarretaria muita malhação para perder essas calorias, abria mão desses pequenos prazeres que nos faz tão bem, mas ela aguentava firme e tinha certeza que isso era o melhor para ela.


Sua vida social era muito agitada, mas atingiu seus objetivos, afinal se preparou anos e anos para chegar onde chegou, estudou muito, aprendeu várias línguas já que viajava constantemente pelo trabalho e com isto conhecia muitas pessoas. Escolhia de acordo com seus valores e critérios com quem manteria contato já que ela era tão perfeita e não tinha tempo a perder com os antigos amigos que diferente dela não conseguiram ir muito longe sob seu ponto de vista.
Tinha certeza que era admirada por muitos e odiada também por outros tantos, sabia que despertava o sentimento da inveja nas pessoas.


Como se considerava muito perfeita, não dava a mínima para este sentimento, ou melhor, sentia prazer em despertá-lo, diferente da maioria das pessoas que temem a inveja ela não se importava até porque se achava acima do bem e do mal.
Limites para ela era uma palavra que só existia e fazia sentido para as outras pessoas, para ela não, se queria algo acreditava que nada poderia deter, realmente era muito determinada, rígida com seus conceitos e valores de vida estavam sempre no controle das situações de seu dia a dia e de seus sentimentos.


Tinha consciência como era difícil ser perfeita, assimilou esse comportamento ao longo dos anos e não iria abandoná-los por nada, foi necessário fazer escolhas, largar pessoas que já não tinham tanto sentido dentro de seu modo perfeito de agir.
Seus relacionamentos não duravam muito, não aceitava a fragilidade, o erro e a indecisão do parceiro, acreditava que tudo isso era pertinente a pessoas fracas e desta forma com o transcorrer dos anos foi ficando sozinha.
 

Ao longo de um dia árduo de trabalho, quando voltava para casa sentiu uma inquietação coisa que não estava acostumada sentir, achou muito estranho e foi com esse sentimento que passou a noite toda acordada pensando. Travou uma grande luta interna, percebia que um lado seu queria que ela explicasse para si mesmo que ser perfeito era a segurança e o controle que sempre desejou, outro lado dizia que sua vida podia ser diferente, não tão rígida consigo e com os outros, podia ser mais flexível, compreensiva, entregar-se mais aos sentimentos e poder se relacionar se arriscando para ver se daria certo ou não.
 

A todo instante que refletia sobre si mesma percebia que não tinha mais amigos para ligar tarde da noite e poder falar de suas angústias, estava só em seu mundo perfeito.
Sentiu falta de algo que naquele momento era maior do que tudo que conseguiu , não que estas conquistas perderam seu valor, mas notou que a vida é maior do que a imposição e a ilusão da perfeição , que esta existe somente no Olimpo dos deuses gregos.Aqui no mundo dos humanos não existe perfeição e que é preciso compreender :a insegurança, os erros, o medo de tentar novas experiências, saber identificar os sentimentos, o desejo de conseguir e valorizar a conquista para continuar progredindo e ampliando seu bem estar num mundo real.
 

Ao final daquela primeira sessão psicoterápica ela  disse que sua expectativa em relação ao processo analítico era reaprender a ser humana.




Seja Feliz

Teresa Zogaib


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