Observo esses anos todos de atendimentos
psicoterápicos que muitas das queixas trazidas pelas pessoas foram se
modificando, o que era importante há alguns anos atrás deixou de ser, houve uma
transformação que nos mostra novos comportamentos. Quer um exemplo? Atualmente
vejo que a maior parte das mulheres investe na carreira profissional e somente
por volta dos 35 anos é que começam a questionar e sentir falta de ter filhos,
casar, ou manter uma relação estável que possibilite a formação vincular familiar.
Já os homens cada vez mais estão frequentando os consultórios de psicologia
muitos chegam questionando e tentando redefinir o papel masculino, sentem-se
perdidos frente a essa nova mulher.
Mas há uma queixa que permanece ao longo do tempo
que é o relacionamento afetivo entre os casais.
Geralmente essa queixa esta voltada para
sentimentos de abandono, rejeição, falta de atenção, de carinho e indiferença
entre os parceiros. Algumas pessoas chegam já percebendo que a relação já havia
terminado muito antes da separação concreta ocorrer. Quando questionados sobre
isso respondem que acreditavam que esta situação era passageira, acreditavam
que isto poderia ser uma fase, uma crise e que passaria.
Ao relatar como se relacionava se dão conta que
já não existia mais sorrisos, beijos, bom humor, alegria, vontade de estar
juntos, a quantidade e qualidade do sexo já não era mais tão atraente como
também o desejo havia diminuído muito.
Acho interessante que os casais que já não
suportam essa situação são os mesmos que um dia se uniram porque queriam
construir e somar uma vida a dois. Um dos fatores que observo no relato da
pessoa é a falta de tolerância que se instalou no transcorrer dos anos e com
ela veio também à falta de admiração, e o que um dia foi motivo de união agora
é de irritação e desunião.
Também noto a necessidade de cada um destruir e
culpar o outro pelo término da relação, utilizando comportamentos e sentimentos
onde um tenta ridicularizar o outro, apontam defeitos os quais já estavam junto
à pessoa desde o início da relação, mas um acreditou que conseguiria transformar
o outro no que havia sonhado para si.
Esta separação começou a ser instalada quando
cada um projetou no outro o que gostaria que ele ou ela fosse geralmente à
escolha do que se deseja é que o outro venha para sua vida de forma perfeita.
Como se o natural fosse ser perfeito, o outro é
colocado acima do bem e do mal, como se isso fosse possível. AH, o amor pode
realmente cegar, é preciso que cada parceiro olhe atentamente para si mesmo
antes de querer que o outro de a você o que você resolveu sem ao menos nem
perguntar ao parceiro se ele quer dar isso, ou pior ainda se ele tem e pode dar
isso para que você se engane e pense ser feliz.
Acredito que a grande falha no relacionamento é perder a autonomia e a
identidade em nome da felicidade, não consigo entender onde está escrito isso e
porque principalmente as mulheres fazem desta forma, largam amigos antigos,
deixam de sair com a turma para se divertir e depois de forma impiedosa cobram
de seus parceiros façam o mesmo que elas.
Penso que uma das formas de tentar que uma
relação de certo é manter a identidade e a autonomia, sem esquecer-se de
realizar projetos a dois, é desse encontro que surge a segurança por sentir se amado,
o cuidado pelo outro, é saber conversar, compreender e respeitar a diferença
existente entre os dois.
Enfim é gostar de si mesmo e gostar do outro como
realmente ele é e não como você desejaria que ele ou ela fosse.